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A essência do esporte​

A essência do esporte

Em 1950, vários países deixaram de participar da Copa do Mundo no Brasil porque não tinham dinheiro para a viagem. Nos últimos oito anos, transferências internacionais de jogadores movimentaram US$ 30 bilhões, só em 2017 — US$ 6,37 bilhões, 32,7% a mais que em 2016. Hoje, a Fifa, que há 40 anos sequer tinha sede própria, fatura mais de US$ 1 bilhão por ano. Desde que o esporte se transformou em conteúdo de mídia, cada vez mais negócios acontecem ao seu redor. Com tantos interesses envolvidos, é imprescindível que não se perca de vista sua própria essência, que transcende a qualquer negócio.

O esporte é instrumento para o desenvolvimento integral das pessoas, ferramenta de crescimento econômico e promoção de bem-estar social. Em meio ao imediatismo da nossa sociedade, quando o foco parece estar cada vez mais no destino que na jornada, faz-se ainda mais importante que seja fiel à sua essência e esteja sempre a serviço da humanidade, fazendo a diferença com exemplos de honestidade, inclusão e aceitação, lembrando a todos que é incrível fazer o bem e ser bom.

Seja no esporte ou na vida, vencer a qualquer preço não vale a pena. O mais importante é como se joga o jogo. Os momentos da vida e o que fazemos com eles, como tratamos os outros e a nós mesmos, fazem a diferença, definindo a sociedade e quem somos. O esporte enfatiza valores importantíssimos e fundamentais e, acima de qualquer interesse comercial, atletas e organizações esportivas, profissionais e amadores têm a responsabilidade de abraçá-los e promovê-los.

O Papa Francisco — na Conferência sobre Esporte e Fé promovida pelo Pontifício Conselho da Cultura no Vaticano em 2016 — encorajou comunidades religiosas, instituições públicas e privadas, entidades esportivas, organizações educacionais e sociais a trabalharem em conjunto para garantir a prática esportiva com dignidade. Isso mantendo a integridade, protegendo-o das manipulações e do abuso comercial, combinando a emoção da fé e do esporte numa força poderosa para promover mais o bem que podem trazer e valores como compaixão, respeito, amor, esclarecimento, equilíbrio e alegria.

O Movimento Olímpico prega o esporte como filosofia de vida que enaltece equilíbrio entre corpo, mente e espírito, tendo como princípios amizade, compreensão mútua, solidariedade e jogo limpo, estimulando a alegria do esforço, boas práticas e princípios éticos universais, colocando o esporte a serviço do desenvolvimento humano, econômico e social para a construção de um mundo melhor, sem nenhum tipo de discriminação, assegurando a prática esportiva como direito de todos.

Nos últimos 20 anos, o Brasil, sem dúvida, foi um dos países que mais investiram em esporte no mundo. A soma corrigida dos recursos empregados nos Jogos Pan-Americanos, Mundiais Militares, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Paralímpicos — com os valores destinados anualmente ao esporte olímpico pelas loterias e empresas estatais — passa de R$ 100 bilhões.

Não seria demais esperar que o esporte, em sua essência, ajudasse a passar o Brasil a limpo, seria?

Pedro Trengrouse é advogado e professor da FGV